quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Coisas que eu sei,


Eu quero ficar perto de tudo que acho certo, até o dia em que eu mudar de opinião. A minha experiência, meu pacto com a ciência, meu conhecimento, é minha distração. Coisas que eu sei, eu adivinho sem ninguém ter me contado. Coisas que eu sei, o meu rádio relógio mostra o tempo errado , aperte o Play. Eu gosto do meu quarto, do meu desarrumado, ninguém sabe mexer na minha confusão. É o meu ponto de vista, não aceito turistas, meu mundo tá fechado pra visitação... Coisas que eu sei, o medo mora perto das idéias loucas. Coisas que eu sei, se eu for eu vou assim não vou trocar de roupa, é minha lei. Eu corto os meus dobrados, acerto os meus pecados, ninguém pergunta mais depois que eu já paguei. Eu vejo o filme em pausas, eu imagino casas, depois eu já nem lembro do que eu desenhei.Coisas que eu sei, não guardo mais agendas no meu celular. Coisas que eu sei, eu compro aparelhos que eu não sei usar , eu já comprei. As vezes da preguiça, na areia movediça, quanto mais eu mexo mais afundo em mim. Eu moro num cenário, do lado imaginário, eu entro e saio sempre quando estou afim. Coisas que eu sei, as noites ficam claras no raiar do dia. Coisas que eu sei... São coisas que somente antes não sabia, agora eu sei.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Perfeição.


Ela costumava sentar e tomar seu café ali, sem ser incomodada mesmo com a cafeteria cheia de pessoas tomando seus cafés elaborados e chiques, procurando fugir de algo, conversar com alguém, paquerar, desabafar, ler. Apreciava seu café mocha (algo feito com café, chocolate, alguma coisa do leite e mais sabe-se lá o que, com sabor baunilha), distraída observando o movimento na rua lá fora.

- Posso me sentar aqui? – Uma voz grave, masculina lhe tirou de seu devaneio fazendo-a desviar seu olhar, primeiro para as mesas em volta, todas ocupadas por alguém, um casal, alguns amigos, depois para o dono da voz. Viu um homem alto, aparentando seus 30 e poucos anos, talvez mais, talvez menos, elegante e sem aparentar ser um psicopata ou algum tipo de lunático oferecendo-lhe um sorriso simpático, enquanto segurava um daqueles copos com alguma bebida feita a base de café e sabe-se Deus lá o que. Esforçou para retribuir o sorriso e com pouco mais de um muxoxo respondeu – Porque não?
Ficou um momento observando a figura agora sentada a sua mesa, até que percebeu que praticamente o encarava, o que a fez desviar o olhar encabulada quando percebeu que ele a olhava de volta.
- Espero não atrapalhar seus pensamentos.
- Não, tudo bem. As vezes é bom um pouco de compania.
- E não tem tido muita? – Sentiu-se encabulada diante do sorriso gentil, mas ao mesmo tempo sarcástico que acompanhou a pergunta.
- Isso está ficando meio…
- Pessoal?
- Acho que sim. – Começou a observar enquanto ele tateava os bolsos a procura de algo.
- E não gosta quando as conversas ficam – sorriu de esgueio enquanto puxava um maço de camel do bolso do blazer – pessoais? – Sem esperar uma resposta, puxou um cigarro perguntando – Se incomoda?
- Se precisa….
- Não preciso, apenas queria.
- Não deveria fumar. Faz mal, sabia?
- Agora isso está ficando bem pessoal – disse sorrindo – Mas eu não fumo.
- E o que ia fazer com isso, então? – Perguntou divertida apontando o cigarro.
- Eu não sou um habitué do cigarro. Fumo eventualmente, quando preciso de ajuda no cérebro.
- Ajuda no cérebro? – Sorria divertida enquanto seu interlocutor apalpava os bolsos da calça retirando o isqueiro e erguendo-o como um troféu.
- É, estimula as sinapses, sabe? Mas vocë não me respondeu se lhe incomoda.
- Vá em frente, o pulmão é seu. – Ficou observando enquanto acendia o cigarro, com um trago demorado e se sobressaltou um pouco quando ele lhe estendeu a mão.
- Ricardo… – Apertou-lhe a mão com suavidade.
- Vitória. – Bebericou seu café e respirou fundo. – Porque precisa estimular suas sinapses, Ricardo.
- Para superar um problema e para escrever sobre ele.
- Escrever sobre ele?
Ricardo respirou fundo, olhando aparentemente para o nada ao seu lado. – O que é melhor para o escritor do que reciclar suas experiëncias reais, irreais, surreais e sensoriais? – Olhou Vitória nos olhos, enquanto dava outra tragada profunda. – O que melhor do que nossa vida e a vida alheia emprestada?
- É um escritor?
- Ou finjo ser. – Seus olhos desviaram dos olhos de Vitória para o cinzeiro na mesa. Tornou a sorrir. – O poeta é um fingidor, finge que é dor, a dor que deveras sente.
- Bonito.
- Não é meu, e também não sou um poeta. Meu amor escoa em prosa.
- Escoa?
- O que é o amor? – Um trago profundo acompanhou a pausa após a pergunta, – Eu sou um cara perfeccionista, segundo meus amigos. Procuro a perfeição em tudo, inclusive nas mulheres.
- Isso deve ser complicado, – Vitória sorria divertida e interessada pela conversa de seu interlocutor.
- Várias vezes mostravam garotas na rua, achando-as lindas, perfeitas.
- E não eram?
- Eu sempre acho um defeito, – Seu sorriso era ao mesmo tempo divertido e triste.
- E onde entra o amor nisso?
Ricardo brincou cutucando a cinza no cinzeiro com o cigarro ainda aceso, mas apagando seu sorriso triste e mudando para uma expressão serena olhando profundamente nos olhos de Vitória.
- Tinha essa garota, eu a conheci por acaso, por causa de amigos. A princípio não a achei linda, era bonita no máximo. – Baixou os olhos para a mesa com um esboço de sorriso – Nas primeiras vezes nos encontramos com amigos, até que um dia aconteceu. E durou bastante.
- E?
- Ela se tornou perfeita. – Agora seu sorriso era completo – Não logo de cara, mas depois de um tempo era linda, o seu humor caustico era perfeito, tudo nela era maravilhoso.
- E o que aconteceu com essa garota?
- A vida. Ela. Nós. Não sei. Acabou.
Vitória tentava decifrar que expressão era aquela no rosto de Ricardo. Seria tristeza? Pesar? Concentração? Saudosismo? Agora ele parecia menos estranho e aos poucos se tornava quase…
– Obrigado pela companhia e desculpe – A frase cortou seu pensamento.
- Já vai?
- Acho que tive alguma inspiração. A conversa ajudou bastante.
- E eu não mereço algo? – Vitória esboçava um sorriso divertido.
- E o que posso fazer por você, Vitória – Ricardo estava contagiado pela expressão de divertimento.
- Me torne perfeita…

domingo, 5 de setembro de 2010

Live

Dizem que a vida é curta, mas não é verdade, a vida é longa para quem conseguem viver pequenas felicidades, e essa tal felicidade anda por aí, disfarçada, como uma criança brincando de esconde- esconde. Infelizmente, às vezes não percebemos isso, e passamos nossa existência colecionando nãos. A viagem que não fizemos; a festa a qual não fomos; o presente que não demos; o amor que não vivemos; perfume que não sentimos. A vida é mais importante quando se é ator e não espectador, quando se é piloto e não passageiro, cavaleiro e não montaria. e como ela é feitas de instantes, não pode nem deve ser medida em ano ou messes, mas sim em minutos e segundos. Então, aproveite o tempo, e se lembre com orgulho daquele tempo que você soube aproveitar no passado, e aquele tempo do futuro, não desperdice. Afinal, porque a vida é agora!